Fernando Pessoa, legendário.
O Banqueiro Anarquista.
– Eles são anarquistas e estúpidos, eu anarquista e inteligente. Isto é, meu velho, eu é que sou o verdadeiro anarquista. Eles – os dos sindicatos e das bombas (eu também lá estive e saí de lá exactamente pelo meu verdadeiro anarquismo) – eles são o lixo do anarquismo, os fêmeas da grande doutrina libertária.
– O mal verdadeiro, o único mal, são as convenções e as ficções sociais, que se sobrepõem às realidades naturais – tudo, desde a família ao dinheiro, desde a religião ao estado. A gente nasce homem ou mulher – quero dizer, nasce para ser, em adulto, homem ou mulher; não nasce, em boa justiça natural, nem para ser marido, nem para ser rico ou pobre, como também não nasce para ser católico, ou protestante, ou português, ou inglês. É todas essas coisas em virtude das ficções sociais.
– Tão mau é o dinheiro como o estado, a constituição da família como as religiões.
– Ora, qualquer sistema que não seja o puro sistema anarquista, que quer a abolição de todas as ficções e de cada uma delas completamente, é uma ficção também.
– Auxiliar alguém, meu amigo, é tomar alguém por incapaz.
– Seriam errados os nossos processos? Com certeza que deveriam ser.
– Ora, dominar alguém será um fim natural da nossa personalidade?
– Eles só queriam brincar aos libertários? (…) Eles não tinham força para combater senão encostados uns aos outros, e criando, entre si, um simulacro novo da tirania que diziam querer combater? Pois que o fizessem, os parvos, se não serviam para mais. Eu é que não ia ser burguês por tão pouco.
– O mais que eu poderia fazer nesse sentido era destruir – destruir no sentido físico de matar – um ou outro membro das classes representativas da sociedade burguesa. Estudei o caso, e vi que era asneira.
– Realmente, que se esquiva a travar um combate não é derrotado nele. Mas moralmente é derrotado, porque não se bateu.
Obrigada Fernando Pessoa.